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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Vamos à procura da luz

Natal: a festa da luz... Então procuremos a luz.
António Mega Ferreira, num texto belíssimo que já conta algum tempo, depois de passear a sua pena por vários poetas, escultores e pintores, por exemplo, Sophia, João Cabral de Melo, Rubens, El Greco, Don DeLillo entre outros. O seu texto termina com esta pergunta, tirada de Don DeLillo: «Há estrelas mortas que ainda brilham porque a sua luz ficou aprisionada no tempo. Como situar-se em face desta luz, que, em bom rigor, não existe?» E continua: «Um homem quando vem da morte, diz, ao rosto amado: Minha luz». Provavelmente, foi esta expressão que Cristo também utilizou quando depois da morte, ao terceiro dia, aparece aos Apóstolos cheio de luz. Não terá o mesmo sentido a expressão que Cristo utiliza: «Dou-vos a minha paz...»? – Ao rosto que Cristo ama, que são todos os seus discípulos, revela-lhes a luz e deseja-lhes paz. Esta é a expressão máxima do amor divino feito história concreta.
Por outro lado, dado que «só o poema contém a luz que nos faz ver», apresento o poema de Octavio Paz, «Este Lado»: «Há luz. Não lhe tocamos nem vemos. / Nas suas vazias claridades / repousa tudo o que vemos e tocamos. / Eu vejo com as pontas dos meus dedos / o que os meus olhos apalpam: / Sombras, mundo. / Com as sombras traço mundos, / dissipo mundos com as sombras. / Ouço palpitar a luz do outro lado». O poema apresenta-se como é a festa da luz. O poética ora perturbado com as sombras do mundo, ora angustiado porque a vida perde-se na azáfama do agora, mas, ao mesmo tempo, sente que do outro lado a luz está e é essa certeza que o anima. Esta mensagem é fabulosa. Para nós serve, para entender que a vida faz-se nas sombras, «com as sombras faço mundos», mas não me quero esquecer que do outro lado a luz palpita, para me encher de alegria e felicidade.
As imagens de Noronha da Costa, pintura construída à luz da vela e com a luz da vela, são quadros fantásticos, que nos remetem para o eterno das coisas. A penumbra construída pela luz da vela são sombras, mas o centro revelado pela luz que brilha é o palpitar da eternidade. Na penumbra dos dias devemos perceber que o futuro está já aqui nesse brilho da luz, mesmo que seja uma singela e humilde vela.
Perante esta embalagem descobrimos mais adiante um texto muito belo de Hugo Gonçalves, «Toda a Matéria é Combustível». Repare-se, então, na beleza das suas palavras: «Sentamo-nos no passeio, esperando o final das chamas. Estaremos assim, próximos, no mesmo lugar, cada vez menos. Quando amanhecer, trocaremos apertos de mão em vez de beijos, como fazem os adultos. Mas por enquanto, continuaremos aqui, esperando a luz do sol que elimina a tristeza, sorrindo sempre que acertamos com pedras nas janelas que resistem ao fogo». Muito interessante, sempre pensei que a tristeza nada é perante a luz do sol. Por isso, não gosto dos dias sombrios, tristes e muito menos gosto da noite. Pois, venha o sol para iluminar os dias e acabar sempre com o terror da noite.
Então face a esta realidade da vida e ao medo que possa provocar qualquer elemento do universo, da natureza e da vida, «Venha mais Luz» como pedia João Lima Pinharanda, porque é o que cada um pode pedir quando o escuro da vida o persegue.
Mas, também vamos ao encontro de um texto extraordinário de José Augusto Mourão. No início do seu texto descobre-se uma citação muito sugestiva de Echkart, que diz assim: «Não poderia ver bem a luz que brilha sobre o muro se não voltasse os olhos para onde ela jorra. E mesmo aí, se a capto onde ela jorra, preciso de ser libertado desse jorrar; devo captá-la tal como ela plana em si mesma. E mesmo assim direi que não deve ser assim. Não a posso captar nem no seu contacto nem no seu jorrar nem mesmo quando plana em si mesma, porque tudo isso é ainda um modo. É preciso captar Deus como um modo sem modo, como um ser sem ser, porque não há modo». Agora parece estarmos perante uma procura da luz que se identifica mais com a presença de Deus.
JLR

1 comentário:

lucia disse...

Supercialmente um texto lindo... digo superficialmente pois para entendê-lo na íntegra teria que ter acesso as obras dos escritores, escultores e outros mencionados... Porém, a beleza de como são descritas as obras destes, posso supor com certeza,que são belas obras, sendo assim compõem o belo texto!